Depressão, problemas de coordenação e de fala, perda e deficiência muscular são apenas alguns dos sintomas que caracterizam a esclerose múltipla. Investigadores da unidade de biologia do rato do European Molecular Biology Laboratory (EMBL) em Itália e do Departamento de Neuropatologia da Faculdade de Medicina da Universidade de Gottingen descobriram agora que esses sintomas podem ser agravados por uma molécula sinalizante específica das células do sistema nervoso. O estudo publicado on-line esta semana na Nature Immunology sugere que bloquear as proteínas que regulam essa molécula pode ser uma estratégia eficiente a utilizar em novas terapias contra esta patologia.
As células nervosas no nosso cérebro e na espinal medula comunicam umas com as outras através de sinais eléctricos. Esta comunicação é rápida e eficiente porque – tal como os fios de um circuito eléctrico – os axónios (parte terminal de um neurónio que faz a ligação a outro neurónio) dos nervos estão envolvidos por uma camada isolante. Na esclerose múltipla esta camada protectora – a mielina, que é constituída por uma mistura de lípidos e proteínas -, é destruída pelas células no sistema imunitário do próprio indivíduo e, por isso, a comunicação entre nervos é interrompida. Uma molécula fulcral neste mecanismo é a NF-kB, uma proteína sinalizante.
“Há muito tempo que sabemos que a NF-kB está crucialmente envolvida na esclerose múltipla”, diz Manolis Pasparakis, antigo líder do grupo do EMBL envolvido neste estudo que actualmente ocupa a posição de professor no Instituto de Genética na Universidade de Colónia “Até agora não estava claro se esta era uma molécula amiga ou inimiga. Não estávamos seguros se esta protegia as células cerebrais das consequências da doença ou se na realidade agravava os danos”, diz.
Para ter uma ideia mais clara do papel da NF-kB na esclerose múltipla Pasparakis e os seus colaboradores da Universidade de Gottingen estudaram o que acontecia a um rato com esta doença se a acção da NF-kB fosse bloqueada. Para bloquear o sinal inactivaram duas proteínas que a activam, a IKK2 e a NEMO.
“Isto foi um grande desafio porque a NF-kB está envolvida em muitos processos cruciais no organismo e anular a sua activação em todas as células mataria o rato ainda antes deste nascer”, diz Pasparakis. “Para observar o efeito da NF-kB na esclerose múltipla usamos técnicas genéticas sofisticadas de forma a produzir ratos que não expressassem IKK2 e NEMO apenas nas células cerebrais.”
Os resultados mostraram que os ratos apresentavam sintomas de esclerose múltipla muito mais moderados do que o normal, um efeito que está provavelmente ligado à baixa produção de mensageiros inflamatórios pelo cérebro.
“A NF-kB regula a produção de mensageiros que são libertados durante a inflamação de modo a recrutar e activar as células imunitárias”, diz Marco Prinz, cujo grupo da Universidade de Gottingen participou no projecto. “Geralmente esta é uma boa estratégia para proteger o corpo de infecções. No entanto, na esclerose múltipla são exactamente estas células imunitárias que causam o problema e a sua hiperactivação através da NF-kB, apenas piora a situação.”
Ao bloquear a IKK2 e a NEMO interferiu-se com esta acção patológica da NF-kB e aliviaram-se os sintomas da doença. Isto indica que estas proteínas podem ser promissores alvos terapêuticos para novas terapêuticas farmacológicas contra a esclerose múltipla. A via de sinalização da NF-kB humana é muito semelhante à do rato, e por isso compostos que inibem a IKK2 e NEMO nestes animais, muito provavelmente provocam a mesma atenuação de sintomas no Homem.
2 Comments
Parabéns. Está tudo maravilhoso.
Obrigada queridaa ❤️❤️